Por: Ricardo Bovo*
Sugiro seguir pontos abaixo, que considero fundamentais para ser avaliados antes de escolher ou projetar um sistema de radiocomunicação.
1) Padrões abertos
Sempre considere padrões abertos e conhecidos, pois eles possibilitam mais opções de fornecedores no futuro. Atualmente, no setor de radiocomunicação, existem apenas dois padrões abertos e internacionalmente reconhecidos: APCO P25 e TETRA.
Por razões culturais, a tecnologia padrão Projeto 25 da APCO (que chamarei apenas de APCO) é mais difundida e utilizada na América Latina (incluindo o Brasil), Estados Unidos e Oceania, enquanto a tecnologia TETRA é amplamente utilizada nos países da Europa, Oriente Médio, África e Ásia.
Os requisitos de alocação de frequências para APCO e TETRA são diferentes e, em algumas situações, representam os maiores obstáculos para o uso do TETRA na América Latina.
2) Faixa de frequência/espectro disponível
Cada país possui uma legislação específica sobre alocação do espectro e, algumas vezes, simplesmente não existem canais disponíveis na banda em que você precisa. Por isso, recomendo estudar cuidadosamente a legislação de telecomunicações local para entender qual padrão pode ser usado e que banda de frequência está disponível.
Os sistemas APCO estão disponíveis em VHF, UHF (nas faixas de 380 MHz e 450 MHz) e 800 MHz, para operação troncalizada (trunking) ou convencional, com canais de 25 kHz ou 12,5 kHz. Os sistemas TETRA, por sua vez, não estão disponíveis para a banda de VHF, mas para UHF (350 MHz, 380-400 MHz, 410-430 MHz e 450-470 MHz) e 800 MHz, somente para modo troncalizado.
É importante também olhar a separação espaçamento entre frequências de transmissão e recepção prevista pela legislação local, uma vez que a maioria dos sistemas TETRA é fabricada para separações de 10 MHz.
3) Legislação local
A decisão por um sistema convencional ou troncalizado depende da quantidade de canais (bandas) disponíveis e do número de usuários. Se você tem uma grande concentração de usuários em um local reduzido ou uma pequena área para prover cobertura, um sistema troncalizado é o mais apropriado. Da mesma maneira, o troncalizado pode ser importante para prever roaming automático de voz e dados entre sites.
Porém, se você tem um pequeno número de usuários espalhados por uma vasta área e a seleção de canais pode ser deixada ao usuário, o ideal é optar por um sistema convencional APCO, em VHF ou UHF.
Embora o serviço troncalizado não esteja previsto na banda de VHF, há casos nos quais o órgão regulador aceita a utilização da tecnologia trunking para melhor eficiência de uso do espectro sempre que os canais são alocados a um único usuário.
Além disso, é necessário verificar se existem restrições na norma do serviço, por meio de consulta à agência governamental local e do entendimento da legislação, e checar se os equipamentos estão devidamente homologados pelo órgão regulador.
No Brasil, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é responsável pela regulamentação do uso do espectro de frequências (http://www.anatel.gov.br).
Os dois padrões digitais fornecem eficiência espectral. O APCO usa apenas 12,5 kHz por canal em modo FDMA, mas existem desenvolvimentos para estender em TDMA, a partir de 2010. Já o TETRA utiliza TDMA 4:1 em canais de 25 kHz.
4) Compatibilidade com a base instalada
Ao atualizar ou migrar seu sistema de radiocomunicação analógico para digital, surge o problema de ‘o que fazer com o legado existente de rádios analógicos convencionais ou troncalizados’.
O padrão APCO pode operar tanto em modo analógico quanto em modo troncalizado, possibilitando um caminho suave de migração, uma vez que um mesmo rádio pode operar tanto no modo analógico quanto no digital.
Isso possibilita reutilizar os rádios analógicos em outras áreas e priorizar os usuários existentes em um primeiro momento. Os problemas de interoperabilidade geralmente acontecem quando o novo sistema digital opera em banda diferente.
Continua…
*Engenheiro eletricista e especialista em radiocomunicação. Tem mais de 15 anos e experiência no setor e atualmente é responsável pelo atendimento das empresas do setor de energia como Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Motorola Solutions – Indústria de Produtos de Banda Larga Móvel Ltda.
Fonte: http://smartgridnews.com.br